A sessão plenária “Comunicação e Liberdade” do XIII Congresso da SOPCOM contou com a presença de Joaquim Furtado, voz do primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas no dia 25 de abril de 1974, e José Pacheco Pereira, historiador e cronista.

José Pacheco Pereira recordou, ao abrir da sessão, as mudanças no conceito de liberdade. Uma das primeiras formas de censura que sentiu foi ainda nos tempos do “liceu”: foi chamado ao reitor, “formado na Alemanha Nazi nos anos 30”, porque este considerava que “os artigos que escrevia eram muito comunistas”.

O historiador disse ter mantido os “tiques clandestinos”. “Um deles era pegar nas chaves antes de chegar a casa. Olhava sempre de longe para a porta e, se visse alguma coisa estranha, atirava as chaves fora.” Pacheco Pereira tinha sempre consigo as chaves da “tipografia clandestina”, estritamente proibida pelo governo. “As chaves eram das primeiras coisas que eles [PIDE] revistavam”.

Os hábitos são de outros tempos, em que o 25 de abril de 1974 ainda estava longe de acontecer. Quando a liberdade chegou, quem deu voz à revolução, no Rádio Clube Português, foi Joaquim Furtado. Estava destacado para os noticiários da madrugada e nada fazia prever que às quatro da manhã fosse sentir “uma presença junto à secretária”. “Era um militar de pistola na mão” e, para o locutor, era estranho ver um “capitão com um ar tímido, até constrangido”.

“As pessoas estavam à espera que acontecesse algo. Não sabiam o quê ou quando, mas sabiam que algo iria acontecer. A situação em que estávamos era insustentável”, desabafou. Para garantir que a ideia avançasse, o Movimento das Forças Armadas optou pelo RCP como porta para a liberdade. “Se o regime decidisse cortar a eletricidade e linhas telefónicas, nós tínhamos sempre um gerador”.

Joaquim Furtado contou, em entrevista, que, naquela madrugada, foi-lhe dito tratar-se de um “movimento militar”. “Mas que movimento militar? Ele disse: olha, isto é para derrubar o governo; acabar com a guerra colonial, com a pide e a censura, libertar os presos políticos. Bem, eu achei aquilo uma coisa extraordinária, não é?”

Passaram 50 anos desde a revolução dos cravos. José Pacheco Pereira concluiu a sessão plenária e disse que, desde então, “mudou tudo”. O país “não é o mesmo”, há um “claro antes e depois”. Aos que nasceram no pós 25 de abril, “é difícil transmitir a sensação, mas é possível, com empatia, curiosidade e imaginação”. 

Carolina Damas e Letícia Oliveira

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